sábado, 4 de junho de 2016

AFOGAMENTO

AFOGAMENTO

“É uma das grandes ironias da mãe natureza que o homem tenha passado os primeiros
nove meses de sua existência envolto em água, e o resto de sua existência com medo inerente da submersão”..

Introdução
O afogamento é a maior causa previsível de morbidade e mortalidade acidental. Pela sua dimensão, é um problema de saúde pública, muitas vezes negligenciado. No mundo, cerca de500.000 morte por afogamento acontece por ano, sendo 97% delas nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos.2,3 É a segunda causa mais comum de morte acidental em crianças,perdendo apenas para acidentes automobilísticos4. No Brasil, é a primeira causa de morte acidental em crianças de 1 a 4 anos (31,7%) e segunda da faixa etária de 0 a 14 anos. Ironicamente, 90%de todos os casos de afogamento ocorrem a 10m de uma medida de segurança.
No Brasil, a idade de maior ocorrência de óbitos por afogamento é de 20 a 29 anos, sem
distinção entre os estados, banhada ou não pelo mar. Na Europa, o afogamento é a principal causa de morte acidental em jovens do sexo masculino.
Os afogamentos em água doce são mais freqüentes em crianças menores de dez anos. Estima-
se que são 8.000 os casos de morte nos EUA, sendo 53% em piscinas. No Brasil, o afogamento em água doce ocorre mais em rios, lagos e represas, na metade dos casos.
Estima-se que ocorram entre 40 a 45% durante a natação e 12 a 29% associados ao uso de barcos. Em esportes náuticos, os afogamentos são responsáveis por 90% dos óbitos.
O consumo de álcool é um fator contribuinte em até 70 dos afogamentos. Fatores de risco pode ser também a presença de epilepsia, autismo, certas síndromes congênitas, a síndrome do QT longo, e a prática do nascimento na água. O afogamento pode, ainda, estar ligado a questões não acidentais, como homicídios, maus-tratos, e outras causas.
Concluindo, a maior parte dos afogamentos acontece em pessoas jovens, saudáveis, e produtivas, com longa expectativa de vida. Por isso um atendimento imediato, adequado e eficaz deve ser prestado logo após ou mesmo durante o acidente.

Causa
Afogamento é a morte por asfixia, que resulta de um acidente por submersão, dentro do 1° dia do acidente.
O termo quase-afogamento refere-se à vítima que sobrevive à asfixia decorrente de um episódio de submersão, pelo menos por 24 horas

Afogamento é o resultado de asfixia por imersão ou submersão em qualquer meio líquido,
Dificultando parcialmente ou por completo a ventilação ou a troca de oxigênio com o ar atmosférico.
A existência de uma interface líquido/ar na entrada da via aérea do paciente impedindo a respiração
é uma condição necessária. A vítima pode não ter seqüelas, ter morbidade ou morrer. Imersão
significa ter o corpo coberto por água ou outro líquido. Para que ocorra afogamento, pelo menos a
face e via aérea devem estar imersas. Submersão implica que todo o corpo, incluindo a via aérea,
deve estar abaixo da água ou outro líquido.
O Comitê Internacional de Reanimação (ILCOR) recomenda que não mais sejam usados os
termos: afogamento seco e molhado, afogamento passivo e ativo, afogamento silencioso, e afogamento
secundário.

Tipos de Acidentes na água e fases do afogamento
A figura I resume os três tipos de acidente na água e as fases de afogamento.
A síndrome de imersão é uma síncope desencadeada pela exposição súbita à água com uma
temperatura 5°C abaixo da temperatura corporal, provocada por uma arritmia, bradi ou taquiarritmia.
Pode ocorrer em temperaturas de água tão quentes quanto 31°C, freqüentes no litoral brasileiro e
em piscinas. Quanto maior for a diferença de temperatura, maior a chance de ocorrência da
hidrocussão. Nenhuma explicação científica foi provada para explicá-la. Estudos mostram que a
ocorrência deste acidente pode ser reduzida se, antes de se entrar na água, se molhar a face e o
pescoço.
As vítimas de afogamento em geral apresentam uma fase inicial de pânico, com luta para se manter
na superfície. Apnéia voluntária ocorre durante a submersão, geralmente seguida de deglutição de grandes
quantidades de líquido, com subseqüentes vômitos, laringoespasmo e aspiração de líquido. Por fim,
a hipoxemia leva à inconsciência, à perda de reflexos das vias aéreas e mais água chega ao pulmão.

CAUSAS de AFOGAMENTO

A - AFOGAMENTO PRIMÁRIO
É o tipo mais comum, não apresentando em seu mecanismo nenhum fator incidental ou patológico que
possa ter desencadeado o afogamento.
b - AFOGAMENTO SECUNDÁRIO
É a denominação utilizada para o afogamento causado por patologia ou incidente associado que o
precipita. Ocorre em 13% dos casos de afogamento, como exemplo; Uso de Drogas (36.2%)
(quase sempre por álcool), crise convulsiva (18.1%), traumas (16.3%), doenças cárdio-pulmonares (14.1%),
mergulho livre ou autônomo (3.7%), e outros (homicídio, suicídio, lipotimias, cãibras, hidrocussão)
(11.6%). O uso do álcool é considerado como o fator mais importante na causa de afogamento secundário

           TIPOS DE ACIDENTES NA ÁGUA E FASES DO AFOGAMENTO
Os três diferentes tipos de acidentes na água e as fases do afogamento são sintetizadas


Conduta

O socorrista

Deve promover o resgate imediato e apropriado, nunca gerando situação em que ambos (vítima e socorrista) possam se afogar, sabendo que a prioridade no resgate não é retirar a pessoa da água, mas fornecer-lhe um meio de apoio que poderá ser qualquer material que flutue, ou ainda, o seu transporte até um local em que esta possa ficar em pé. O socorrista deve saber reconhecer uma apnéia, uma parada cardiorrespiratória (PCR) e saber prestar reanimação cardiopulmonar (RCP)

O resgate

O resgate deve ser feito por fases consecutivas: Compreendendo a Fase de observação, de entrada na água, de abordagem da vítima, de reboque da vítima, e o atendimento da mesma.

Fase de observação

Implica na observação do acidente, o socorrista deve verificar a profundidade do local, o número de vítimas envolvidas, o material disponível para o resgate.

O socorrista deve tentar o socorro sem a sua entrada na água, estendendo qualquer material a sua disposição que tenha a propriedade de boiar na água, não se deve atirar nada que possa vir a ferir a vítima.

Em casos de dispor de um barco para o resgate, sendo este com estabilidade duvidosa a vítima não deve ser colocada dentro do mesmo, pois estará muito agitada.

Fase de entrada na água

O socorrista deve certificar-se que a vítima está visualizando-o. Ao ocorrer em uma piscina a entrada deve ser diagonal à vítima e deve ser feita da parte rasa para a parte funda. Sendo no mar ou rio a entrada deve ser diagonal à vítima e também diagonal à corrente ou à correnteza respectivamente.

Fase de Abordagem

Esta fase ocorre em duas etapas distintas:

Abordagem verbal; Ocorre a uma distância média de 03 metros da vítima. O socorrista vai identificar-se e tentar acalmar a vítima. Caso consiga, dar-lhe-á instruções para que se posicione de costas habilitando uma aproximação sem riscos.

Abordagem física; O socorrista deve fornecer algo em que a vítima possa se apoiar, só então o socorrista se aproximará fisicamente e segurará a vítima fazendo do seguinte modo: O braço de dominância do socorrista deve ficar livre para ajudar no nado, já o outro braço será utilizado para segurar a vítima, sendo passado abaixo da axila da vítima e apoiando o peito da mesma, essa mão será usada para segurar o queixo do afogado de forma que este fique fora da água.

"O SOCORRISTA NÃO PODE PERMITIR QUE A VÍTIMA O AGARRE"

Fase de reboque

O nado utilizado será o "Over arms" também conhecido como nado militar, ou nado de sapo. Quando em piscinas e lagos o objetivo sempre será conduzir a vítima para a porção mais rasa . No mar, será admitido o transporte até a praia, quando a vítima estiver consciente e quando o mar oferecer condições para tanto; será admitido o transporte para o alto mar (local profundo e de extrema calmaria), quando a vítima apresentar-se inconsciente e o mar estiver extremamente revolto (essa atitude dará condições ao socorrista de repensar o salvamento). Caso existam surfistas na área o socorrista, deve-se pedir ajuda.

Quando o socorrista puder caminhar, deve fazê-lo, pois é mais seguro do que nadar. Deverá carregar a vítima de forma que o peito desta fique mais elevado do que a cabeça, diminuindo o perigo da ocorrência de vômito.

Fase de atendimento
O atendimento

Em Primeiros Socorros as alterações eletrolíticas e hídricas decorrentes de diferentes tipos de líquidos(água doce ou salgada) em que ocorreu o acidente não são relevantes, não havendo tratamentos diferentes ou especiais. Os procedimentos em Primeiros Socorros devem adequar-se ao estado particular de cada vítima, no que se refere às complicações existentes.

Vale frisar que o líquido que costuma ser expelido após a retirada da água provém do estômago e não dos pulmões por isso, sua saída deve ser natural , não se deve forçar provocando vômito, pois pode gerar novas complicações.

Caso o acidente não tenha sido visto pelo socorrista, ele deve considerar que a vítima possui Traumatismo Raquimedular(TRM) e deverá tomar todos os cuidados pertinentes a este tipo de patologia.


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Em nível de Primeiros Socorros deve-se sempre:

1. Acalmar a vítima fazê-la repousar e aquecê-la através da substituição das roupas molhadas e fornecimento de roupas secas, casacos, cobertores e bebidas quentes

2. Manter a vítima deitada em decúbito dorsal procedendo com a lateralização da cabeça ou até da própria vítima afim de que não ocorra aspiração de líquidos.

3. Caso o afogado inconsciente seja deixado sozinho, ele deve ser colocado na posição de recuperação que mantêm o corpo apoiado em posição segura e confortável, além de impedir que a língua bloqueie a garganta e facilitar a saída de líquidos.



Outros procedimentos em casos particulares seriam:

1. Fazer a desobstrução das vias aéreas através da extensão do pescoço , da retirada do corpo estranho e da tração mandibular atentando sempre para a possibilidade de trauma cervical.

2. Em vítimas com parada respiratória, proceder com a respiração boca-a-boca objetivando manter a oxigenação cerebral.

3. Em vítimas com PCR, efetuar a RCP em casos que o tempo de submersão seja desconhecido ou inferior a uma hora.

Respiração Artificial Boca-a-Boca


Respiração Artificial Boca-a-Boca Reanimação Cárdio Pulmonar






TRATAMENTO


Conduta após o resgate aquático e primeiros socorros
Quem trabalha no atendimento pré-hospitalar enfrenta diariamente a dúvida de quando acionar o socorro médico e quando encaminhar a vítima ao hospital após o resgate. Em casos graves a indicação da necessidade da ambulância e/ou do hospital é óbvia, porém casos menos graves sempre ocasionam dúvidas. Após o resgate e o atendimento inicial existem basicamente 3 possibilidades:
1. Liberar a vítima sem maiores recomendações.
a) Vítima de RESGATE sem sintomas, doenças ou traumas associados - sem tosse com
ausculta pulmonar normal, com as freqüências cardíacas e respiratórias normais, sem
hipotermia e totalmente acordado, alerta e capaz de andar sem ajuda.
2. Liberar a vítima com recomendações de ser acompanhada por médico.
a) Resgate com pequenas queixas.
b) Grau 1 - Só liberar se a vítima estiver assintomática.
3. Encaminhar a hospital através de Suporte Avançado de Vida (Ambulância).
a) Afogamento grau 2, 3, 4, 5, e 6.
b) Qualquer paciente que por conta do acidente ou doença aguda o impossibilitam de andar
sem ajuda.
c) Qualquer paciente que perdeu a consciência mesmo por um breve período.
d) Qualquer paciente que necessitou de RCP.
e) Qualquer paciente com suspeita de doença grave como; infarto do miocárdio, lesão de
coluna, trauma grave, falta de ar, epilepsia, lesão por animal marinho, intoxicação por
drogas, etc.

A assistência respiratória nestes casos é o mais importante. Inicie a ventilação utilizando oxigênio a 15 litros por minuto sob máscara facial, e dependendo do grau de insuficiência respiratória e a disponibilidade de recursos no local realize a entubação oro - traqueal e a assistência respiratória invasiva sob ventilação mecânica



EXAMES A SEREM SOLICITADOS

Grau 1 - Nenhum.
Grau 2 - Gasometria arterial e radiografia de tórax.
Grau 3 a 6 - Gasometria arterial, hemograma completo, eletrólitos, uréia, creatinina,
glicemia, elementos anormais no sedimento da urina, radiografia de tórax, e tomografia
computadorizada de crânio (se houver alteração no nível de consciência).

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