sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Generosidade: um atalho para uma vida mais feliz

Generosidade: um atalho para uma vida mais feliz

O que nos leva a tentar aliviar o sofrimento alheio sem pedir nada em troca? De onde vem o instinto de fazer o bem? A chave para essas respostas encontra-se numa só palavra: generosidade. Este sentimento, que despertou a curiosidade da ciência, tem-se revelado mais poderoso do que imaginamos.
 Atitudes de carinho, respeito, preocupação com o outro e benevolência são gestos aparentemente simples mas cheios de significado. Todos nós sabemos o que é generosidade. Todos nós ouvimos falar da importância de dar e ajudar os outros de forma espontânea sem esperar nada em troca. Uma atitude simples, pura e desinteressada, que, apesar da sua importância, muitas vezes não é praticada.
Numa sociedade em que, cada vez mais, as pessoas se encontram absortas na sua própria vida e os valores humanos tendem a confundir-se com “o dinheiro paga tudo”, a generosidade é para algumas pessoas um sentimento em vias de extinção. Mas nos últimos anos a ciência tem demonstrado múltiplas razões que podem mudar este cenário. De acordo com as descobertas mais recentes, fazer bem ao próximo pode realmente tornar o mundo num lugar melhor.
Oportunidades para praticar a generosidade todos temos e todos temos algo para dar, mesmo que pensemos o contrário. Pode ser dinheiro ou bens materiais, as associações mais comuns quando se pensa em ser-se generoso. Mas também podemos ser generosos ao darmos um abraço, uma palavra de conforto, um carinho ou simplesmente um pouco do nosso tempo e atenção. Há ainda quem seja capaz de usar o humor para animar os outros, inspirando-os, e quem faça voluntariado – uma das faces mais conhecidas da generosidade.
De uma forma simplista, o princípio assenta em reservar algumas das nossas qualidades humanas para beneficiar os outros; seja no apoio que se dá a alguém gratuitamente, seja na capacidade de oferecer algo a quem mais necessita. Afinal, a generosidade é, antes de mais, uma inclinação do espírito para fazer o bem. A palavra vem do latim “generositas”, que significa “de origem nobre” e, com o tempo, passou a referir-se a nobreza não de nascimento, mas de espírito.
Fazer o bem sem olhar a quem
Se é uma pessoa que gosta de dar e ajudar os outros, saiba que esse comportamento pode estar nos seus genes. Pelo menos, de acordo com várias investigações realizadas. Ao longo de mais de um século, o ensino da teoria de Charles Darwin colocou a ênfase no mecanismo da seleção natural dos mais aptos. Mas recentemente os biólogos começaram a defender que a generosidade tem um papel muito mais importante na evolução da espécie humana do que a força ou a competição.
Se não se considera uma pessoa generosa por natureza, saiba que pode aprender a sê-lo e que a generosidade – ou atos de bondade como referidos na investigação no âmbito da psicologia positiva – pode trazer vários benefícios para a sua saúde física e emocional. Enquanto estudos recentes comprovam a existência de um gene do altruísmo, outros demonstram que ajudar os outros protege a saúde, traz benefícios a quem sofre de doenças crónicas e aumenta a longevidade e autoestima.
Diversas investigações realizadas nos Estados Unidos da América (E.U.A.) constataram que aqueles que prestam apoio ao próximo têm menos probabilidade de morrer quando são confrontados com situações de stress, tendo mais facilidade em lidar com este tipo de situações. Para além disso, o medo interior e a negatividade associada ao egoísmo de quem só olhava para si e para os seus interesses, mostrou que a arrogância por si só é um condicionalismo ao bem-estar e à felicidade.
Catarina Rivero, psicóloga, explica que “não só as pessoas que se consideram mais felizes e experimentam mais emoções positivas tendem a fazer mais atos de bondade, como quando as pessoas são desafiadas a agirem em prol do bem-estar dos outros – em contexto clínico ou de investigação – demonstram maiores níveis de bem-estar subjetivo ou felicidade”. Podemos constatar isso não só entre aqueles que procuram fazer o bem através do voluntariado nos mais diversos contextos, mas também nas ações do dia-a-dia na relação com os outros.
E não importa se os nossos atos são destinados a familiares, amigos, colegas ou mesmo desconhecidos. É verdade que temos tendência para sermos mais empáticos e ajudarmos aqueles que nos são próximos, mas somos seres sociais e, como tal, também somos capazes de fazer o bem por desconhecidos e em prol do coletivo.
Se pensar um pouco, quantas histórias já não ouviu sobre pessoas que arriscam a sua vida para salvar outras que não conhecem? A psicóloga diz-nos que “mesmo quando é pedido para fazer um ato de bondade anónimo – e portanto sem o ganho secundário do reconhecimento social – o impacto no bem-estar é significativo”.
Mais saúde, longevidade e felicidade
Atos bondosos, de qualquer género ou dimensão, despertam novos olhares para a vida. Fazem com que deixemos de olhar para a “bolha” em que vivemos e passemos a ver a realidade dos outros com outros olhos e na sua plenitude. “Quando decidimos agir e fazer o bem, focamo-nos mais no bem-estar dos outros do que em nós, e o bem-estar próprio também tende a aumentar. Por um lado, evitamos a ‘ruminação’ sobre os problemas próprios, por outro lado, temos um sentimento de propósito e valor nas nossas existências”, explica Catarina Rivero.
De acordo com trabalho desenvolvido por Sonja Lyubomirsky, investigadora da Universidade da Califórnia, nos E.U.A., os gestos de bondade potenciam a felicidade, uma vez que quando fazemos o bem tendemos a olhar de forma mais positiva para as pessoas que ajudamos. Para além disso, os atos bondosos minimizam a dor pelo sofrimento dos outros e aumentam uma sensação de “sorte” pela nossa própria vida ou circunstâncias específicas, como termos emprego, comida ou casa para viver. As pessoas sentem-se ainda mais altruístas, o que aumenta os seus níveis de otimismo e confiança, bem como o sentimento de utilidade.
 A psicóloga salienta que a investigação de Sonja Lyubomirsky “aponta ainda para a possibilidade da ocorrência de uma ‘cascata de consequências sociais positivas’ – maior recetividade social, mais suporte quando precisamos, e relações sociais mais fortes”. Ou seja, a vida encarrega-se de recompensar as chamadas boas ações.
O que nos motiva a ser generosos?
Imagine que você acaba de ajudar uma senhora simpática, mas com dificuldade de andar, a atravessar uma rua. Ao terminar a travessia, ela agradece-lhe com um grande sorriso no rosto e você sente-se muito bem por tê-la ajudado. Nessa situação, qual teria sido a sua motivação para ajudar esta senhora?
A neurociência tem tentado responder a essa questão e os cientistas constataram, através das imagens de ressonâncias magnéticas, que basta pensarmos que vamos dar algo a outra pessoa para ativar a área emocional mais profunda do cérebro que está associada à alegria e promove a produção de substâncias que nos fazem sentir bem. Esta descoberta veio, então, comprovar que estamos programados para nos sentirmos bem e felizes quando somos generosos.
Mas se ao ajudarmos os outros estamos a ajudar-nos a nós mesmos, até que ponto este não será um comportamento egoísta? Este é um ponto que tem gerado bastante discussão e há mesmo quem defenda que, na maioria dos casos, só somos generosos em proveito próprio.
No entanto, Catarina Rivero realça o quão interessante é “ver como nos comovemos e sentimos a dor de outros quando nos relatam uma história de sofrimento: somos capazes de fazer uma doação para ajudar uma criança num país longínquo, envolvermo-nos ativamente em causas que acreditamos poderem ajudar comunidades que podemos desconhecer, bem como ajudar vizinhos, amigos ou familiares em dificuldade, ou até ter o impulso de ajudar alguém que por exemplo tropeça e/ou cai na rua”.
No fundo, não importa o que motiva as pessoas a serem generosas; o que importa é que decidiram sê-lo e, dessa forma, estão a ajudar a construir um mundo melhor e uma sociedade mais solidária, mas também mais saudável. “São as relações e a nossa capacidade de dar e cuidar, ligando-nos, que nos levam a confiar mais, sentirmo-nos mais responsáveis pelo bem-estar dos outros, e assim co-construir comunidades de bem-estar”, constata a psicóloga.
Exercite a sua generosidade
Como mencionámos anteriormente, podemos aprender a ser generosos. Basta que ajudemos os outros de forma genuína. No nosso dia-a-dia existem gestos simples que permitem exercitar a generosidade. Por exemplo, pague as compras do supermercado a alguém, dê o seu lugar nos transportes para uma pessoa mais velha se sentar, ajude alguém a atravessar a rua e não se esqueça de sorrir e cumprimentar as pessoas com quem se cruzar.
Enumerar as “coisas boas” que acontecem diariamente também pode ajudar a desenvolver esta atitude. Os pais podem também estimular esta característica envolvendo os filhos em ações generosas e dando-lhes o exemplo. A estas estratégias, Catarina Rivero acrescenta ainda a importância de “fomentar o espírito de comunidade, em locais onde somos conhecidos, pois pode haver uma pressão positiva para comportamentos mais solidários”.
Se a generosidade constitui uma forma de fazer bem aos outros e também a nós mesmos, por que não começar a ajudar e a fazer a diferença? À sua espera encontra-se uma vida mais longa, mais saudável e certamente mais feliz.
Fontes:
- Catarina Rivero, psicóloga – The Random Acts of Kindness Foundation

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