terça-feira, 9 de abril de 2013

Planeta água

Planeta água

A escassez de água é um problema ambiental cujos impactos tendem a ser cada vez mais graves caso o manejo dos recursos hídricos não seja revisto pelos países. Atualmente, mais de um bilhão de pessoas já não têm acesso a água limpa suficiente para suprir suas necessidades básicas diárias. A pecuária, que por vezes contamina rios e lençóis freáticos, contribui de maneira decisiva para a escassez de água, uma vez que, de acordo com relatório publicado em 2003 pela FAO, para se produzir 1 kg de carne são consumidos cerca de 15.000 litros de água, enquanto são necessários apenas 1.300 litros para se produzir a mesma quantidade de grãos.
Embora a água evapore e retorne sob forma de água relativamente pura e potável, ocorrendo nos oceanos a maior parcela dessa evaporação, poderá ocorrer contaminação caso a atmosfera e o solo estejam poluídos em excesso. A água não acaba, pois seu ciclo acontece em um sistema fechado, porém o risco de contaminação a longo prazo é real. Nesse sentido, o mais importante não é apenas poupar água, e sim garantir que os meios em que circula (atmosfera e solo) estejam isentos de poluição.

Em 20 anos, faltará água para 60% do mundo, diz ONU

DAVID WILLEY
da BBC Brasil, em Roma

Dentro de 20 anos, uma proporção de dois terços da população do mundo deve enfrentar escassez de água, de acordo com a FAO, agência das Nações Unidas para agricultura e alimentação, sediada em Roma.


Segundo a FAO, o consumo de água dobrou em relação ao crescimento populacional no último século.

Pouco mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo já não têm acesso a água limpa suficiente para suprir suas necessidades básicas diárias, disse Pasquale Steduto, diretor da unidade de gerenciamento dos recursos hídricos da FAO.

Segundo ele, mais de 2,5 bilhões não têm saneamento básico adequado.

Steduto pediu maior esforços nacionais e internacionais para proteger os recursos hídricos do planeta.

A irrigação para cultivos agrícolas atualmente responde por mais de dois terços de toda a água retirada de lagos, rios e reservatórios subterrâneos.

Em várias partes do mundo, agricultores que tentam produzir alimentos suficientes e obter renda também enfrentam estiagens sistemáticas e crescente competição por água.

O que os agricultores têm que fazer, diz a FAO, é armazenar mais água da chuva e reduzir o desperdício ao irrigar suas plantações.

"A comunidade global tem conhecimentos para lidar com a escassez de água. O que é necessário é agir", afirma a agência das Nações Unidas.


Entenda a importância da água e as consequências do seu mau uso.

da Folha Online
Fundamental para a manutenção da biodiversidade e de todos os ciclos naturais, para a produção de alimentos e a preservação da própria vida, a água vem se tornando cada vez mais um recurso estratégico para a humanidade. Nosso mais valioso recurso é tema do livro "A Água", da série "Folha Explica" da "Publifolha", cujo primeiro capítulo é disponibilizado abaixo.
Divulgação
Livro analisa questões como as propriedades essenciais da água
As grandes civilizações já dependem e vão depender cada vez mais da água para sua sobrevivência econômica e biológica, além do desenvolvimento econômico e cultural. Assim "A Água" analisa, de forma didática, questões como as propriedades essenciais da água, seus múltiplos usos, o impacto da exploração humana dos recursos hídricos e suas consequências.
Um dos autores, José Galizia Tundisi, é presidente do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos e foi presidente do CNPq. Takako Matsumura Tundisi, por sua vez, é professora titular aposentada da Universidade Federal de São Carlos e diretora científica do Instituto Internacional de Ecologia.
Confira a introdução de "Folha Explica - A Água".
Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".
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A água é um recurso estratégico para a humanidade, pois mantém a vida no planeta Terra, sustenta a biodiversidade e a produção de alimentos e suporta todos os ciclos naturais. A água tem, portanto, importância ecológica, econômica e social. As grandes civilizações do passado e do presente, assim como as do futuro, dependem e dependerão da água para sua sobrevivência econômica e biológica, e para o desenvolvimento econômico e cultural. Há uma cultura relacionada com a água e um ciclo hidrossocial na inter-relação da população humana com as águas continentais e costeiras.
Embora dependam da água para sua sobrevivência e para o desenvolvimento econômico e social, as sociedades humanas poluem e degradam este recurso --tanto as águas superficiais como as subterrâneas. A diversificação de usos múltiplos,1 a deposição de resíduos sólidos e líquidos em rios, lagos e represas, e o desmatamento e ocupação de bacias hidrográficas têm produzido crises de abastecimento e crises na qualidade das águas. Todas as avaliações atuais sobre a distribuição, quantidade e qualidade das águas apontam para mudanças substanciais na direção do planejamento, gerenciamento de águas superficiais e subterrâneas. Para uma adequada gestão dos recursos hídricos é necessária uma integração mais efetiva e consistente das informações sobre o funcionamento de lagos, rios, represas e áreas alagadas e dos processos econômicos e sociais que influenciam os recursos hídricos.
Este livro mostra os usos deste recurso natural fundamental para a continuidade da vida no planeta Terra e aponta os principais problemas referentes ao ciclo da água.
Na seção introdutória, abaixo, apresentam-se informações gerais referentes à água e sua distribuição no planeta Terra, especialmente os valores de águas doces e salinas e águas no estado sólido. Veremos que a água doce disponível é apenas uma pequena fração dos recursos hídricos do planeta.
No capítulo 1 discute-se o ciclo hidrológico e seus componentes, tais como precipitação, evaporação e drenagem, entre outros. Os volumes relativos a cada etapa do ciclo serão examinados, bem como a água existente nos principais rios e lagos do planeta. Nesse capítulo também são discutidas as propriedades essenciais da água e as características físicas e químicas que fazem dela uma substância peculiar, de enorme importância para a vida de todos os organismos da Terra, incluindo a espécie humana.
No capítulo 2 são apresentados e discutidos os volumes e estatísticas sobre os recursos hídricos do Brasil e as relações entre a distribuição dos recursos hídricos e a população. Discute-se também a importância das atividades humanas no ciclo hidrológico e a disponibilidade hídrica social.
O capítulo 3 apresenta os usos múltiplos da água e os benefícios que podem trazer ao desenvolvimento e manutenção da qualidade de vida. Apresentam-se também os históricos e as tendências no uso das águas e a disponibilidade social no acesso a ela como motivo da exclusão social. São também discutidos os usos múltiplos da água no Brasil e sua importância para o desenvolvimento do país.
No capítulo seguinte discutem-se os impactos das várias atividades humanas, do crescimento populacional e da contaminação do solo e atmosfera na situação dos recursos hídricos. A contaminação das águas superficiais e subterrâneas é um dos problemas que afetam a segurança coletiva da população e a saúde pública.
Os impactos de usos múltiplos dos recursos hídricos no Brasil e suas conseqüências ecológicas, econômicas e sociais são discutidos no capítulo 5, em que também são apresentadas informações sobre sua magnitude e o potencial para aumento no futuro, se ações decisivas e integradas não forem implantadas.
No capítulo 6 são abordados o planejamento e gestão dos recursos hídricos. Descrevem-se a evolução dos sistemas e processos de gerenciamento e gestão ao longo do século 20 e também os vários mecanismos para gestão integrada e preditiva, especialmente ao nível de bacia hidrográfica.
Finalmente, no capítulo 7, são discutidas as questões principais referentes ao futuro dos usos e gestão das águas no século 21: alternativas para enfrentar a escassez, mecanismos e tecnologias avançadas para diminuir a contaminação e ainda a introdução de uma nova ética para a água --consubstanciada na gestão ambiental mais ampla--, usos do solo, proteção das florestas e biodiversidade, recuperação e proteção de áreas alagadas. Apresentam-se as últimas resoluções das Nações Unidas sobre o problema da água, culminando com a implantação da Década Mundial da Água a partir de 2005.
O leitor poderá consultar um glossário, no fim do livro, para melhor explicação sobre termos utilizados. Também foram incluídos termos não utilizados no texto, mas que podem ser úteis para esclarecimentos futuros.
Considerando-se a obra como um todo, foi feito um esforço no sentido de promover uma visão sistêmica, sintética e útil sobre um recurso natural essencial à sobrevivência das espécies --incluindo a espécie humana-- e vital para o funcionamento equilibrado do planeta.
A ÁGUA NO PLANETA TERRA
A água é uma substância essencial à vida. É encontrada na Terra sob as formas sólida, líquida e gasosa. Noventa e oito por cento da água neste planeta encontra-se nos oceanos (aproximadamente 109 mil km3 de água). Águas doces, que constituem os rios e lagos nos continentes, e águas subterrâneas são relativamente escassas. Estas águas doces nos continentes são a fonte que produz alimentos e colheitas, mantém a biodiversidade e os ciclos de nutrientes, e mantém também as atividades humanas. Sem água de qualidade adequada, o desenvolvimento econômico-social e a qualidade da vida da população humana ficam comprometidos. As fontes de água doce, superficiais ou subterrâneas, têm sofrido, especialmente nos últimos cem anos, em razão de um conjunto de atividades humanas sem precedentes na história: construção de hidrovias, urbanização acelerada, usos intensivos das águas superficiais e subterrâneas na agricultura e na indústria.
O ciclo hidrológico (passagem constante de um estado a outro, como veremos no capítulo 1) renova as quantidades de água e também a sua qualidade. Entretanto, esta água que passa do estado líquido para o gasoso, e também se acumula no estado sólido (gelo) nas calotas polares, não é infinita. O ciclo renova a quantidade de vapor d'água na atmosfera e a quantidade da água líquida, periodicamente, mas é sempre a mesma quantidade de água que é renovada. O aumento intenso de demanda diminui, portanto, a disponibilidade de água líquida e coloca em perigo os usos múltiplos, a expansão econômica e a qualidade de vida. As águas doces continentais também sofrem com a contaminação causada por inúmeras substâncias, pelo despejo de esgotos domésticos e industriais, e com acúmulo destas nos sedimentos de rios, lagos e represas.
Como se chegou a este ponto no uso e degradação de um recurso natural vital para a sobrevivência de todas as espécies de animais e plantas?
A resposta é: porque se acreditava que o recurso era infinito, assim como a capacidade de autodepuração do sistema. Pensava-se que a tecnologia desenvolvida pelo homem poderia tratar qualquer tipo de água contaminada e recuperá-la. Na verdade, o recurso é finito, pois a quantidade de água líquida depende de demanda, e a capacidade de autodepuração dos sistemas tem limite; é bom ter em mente, também, que os custos para transformar água de qualquer qualidade em água potável estão se tornando proibitivos.
Deve-se ainda considerar que as grandes massas urbanas --3 bilhões de pessoas-- necessitam de grandes volumes de água para sua sustentabilidade; além disso, produzem uma massa enorme de detritos (fezes e urina), que necessitam de tratamento imediato para não contaminar as águas superficiais e subterrâneas. Este conjunto de problemas levou à atual situação da água, uma crise sem precedentes, que demanda ações de curto, médio e longo prazos.
1 "Usos múltiplos" da água referem-se aos usos para várias atividades simultaneamente: por exemplo, a água de um lago pode ser utilizada ao mesmo tempo para abastecimento público, recreação, turismo e irrigação.





www1.folha.uol.com.br

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